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Ao longo de suas vidas, muitas pessoas passam por dolorosos processos de separações e divórcios, mas pouquíssimas delas têm o azar (ou a sorte?) de ter esse momento eternizado em um LP. Quando o álbum é duplo, e gravado por ninguém menos do que Marvin Gaye, então... DAMN. Pois é exatamente isso o que aconteceu com Anna Gordy, ex-mulher do cara, que certamente deve ter recebido o antológico "Here, My Dear" (Motown, 1978) com um misto de surpresa e raiva. A idéia de Marvin era pagar o que devia para a sra. Gordy através do lucro das vendas e dos direitos de comercialização do LP, e ele propositalmente tornou o assunto um tanto quanto polêmico ao expor as dores (e também alguns amores) dos doze anos de casamento em 14 faixas e aproximadamente 70 minutos de soul da melhor qualidade. O que nem Marvin poderia imaginar - ou melhor, talvez apenas ele imaginasse - é que o álbum se tornaria um clássico que, apesar de nunca ter gerado grande repercussão comercial, continua tão atual e cativante trinta anos após seu lançamento. "Here My Dear" ainda dá a letra do motivo da separação, uma adolescente que provavelmente mexeu com as cabeças do soulman. Sorte nossa, que podemos degustar essa revista Caras estereofônica, um petardo absolutamente delicado e irônico. Viaje pelo pensamento do mestre e perceba que, no fundo, todo mundo é meio parecido. Mas nem todo mundo é Marvin Gaye. Cinco estrelas no catálogo do OPS™.
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